Ao sair... Um dia chuvoso
Já estava à espera que a chuva parasse há duas horas e não
várias sinais de abrandar. O professor não tinha ido naquela tarde de Abril em
1985 e por causa dos trovões e clarões, a maior parte das meninas e meninos que
ficavam a brincar até a escola fechar já tinha corrido para casa. Eu não tinha
como. Vivia longe e saindo por baixo daquela tempestade nem sei se chegaria à
casa. Depois de ver o último professor
sair e as portas da escola fecharem, aventurei-me e fui andando.
A chuva pareceu diminuir até eu chegar ao fim do primeiro
quarteirão. Não quis voltar mais. Sei que o meu pai ia ralhar comigo se não
estivesse em casa quando ele chegasse. Apressei o passo e fui orando. Escondi
os meus livros por baixo da minha camisola e encolhi-me abraçando-os para não
os perder.
Comecei a ouvir uns passos acelerados aproximarem-se a mim- algum apressado que me ia molhar se pisar numa poça de água. Era uma menina mais ou menos da minha idade com um guarda-chuvas todo torto. Esticou o braço e entregou-me um saco plástico grande cortado como se fosse uma capa. Não me disse uma palavra e voltou a fugir assim que eu recebi. Encapei-me com o saco à cabeça e pus os braços pelos furos que a menina parecia ter feito com um faca as pressas, pois um mais alto que o outro. Que importava? Ao menos cheguei à casa menos molhada.
Comecei a ouvir uns passos acelerados aproximarem-se a mim- algum apressado que me ia molhar se pisar numa poça de água. Era uma menina mais ou menos da minha idade com um guarda-chuvas todo torto. Esticou o braço e entregou-me um saco plástico grande cortado como se fosse uma capa. Não me disse uma palavra e voltou a fugir assim que eu recebi. Encapei-me com o saco à cabeça e pus os braços pelos furos que a menina parecia ter feito com um faca as pressas, pois um mais alto que o outro. Que importava? Ao menos cheguei à casa menos molhada.
Mas fiquei na expectativa de voltar a ver aquela menina… Sai
da Aplicação e Ensaios a fins de Junho desse ano para o Ngola Kanini e nunca
mais passei pela Ramalho Ortigão. Mas pensei várias vezes na menina que não sei
de onde apareceu naquele dia chuvoso.
Há uns meses em pesquisa na internet
decidi apenas ver se encontrava alguma estória que se assimilasse a minha.
Encontrei o blog the alguém que descreve um incidente similar. Diz ser da mesma
cidade aonde sucedeu o meu, só não menciona a escola ou a rua aonde aconteceu o
mero encontro naquele dia chuvoso. Desde então que sigo o blog em anonimato,
mas visito-o diariamente. Não comento, não reajo, mas visito da Rússia… Não sei
o que dizer a dona do blog. E se não for ela que me viu ensopada naquele dia em
1995? Se for mera coincidência que haja semelhanças nas estórias?
Talvez não haja semelhança, não haja um canto ou mesmo uma
menina. Qualquer que seja o caso ou falta de canto desse visitante, por agora
apenas decidi escrever esse texto para voltar a agradecer as visitas que me
chegam da Rússia, como antes feito nos passeios por aqui.
O episódio descrito acima sucedeu comigo. Eu fui a menina
que deu o saco a um menino há muitos anos atrás, não em 1985. Na verdade não me
lembro quando sucedeu, pois nem me recordo que idade tinha, apenas sei que era
miúda. Não disse nada ao menino no dia do sucedido, nunca mais vi o menino, nem
ele conseguiu dizer algo no dia do sucedido, como descrito por mim aqui. Mas até hoje penso nele,
no menino que um dia ajudei…
A ti que me visitas da Rússia, não me vens com sacos em dias
chuvosos e tampouco eu em seu auxílio. Mas ainda assim vamos interagindo por
aqui, sem falarmos…
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