Enfrente à 2014 e 2015

Passou a ser uma mania dela fotografar como me encontra quando entra na minha casa ou aonde quer que eu esteja. Eu estava sentado à janela a fazer uma introspecção do ano ontem, antes do Réveillon hoje. Diz ter gostado de ver a silhueta que a pareceu tristonha. Não a havia ouvido entrar. Mas notei depois que parara sentada, apenas metros de mim, debruçada sob as pernas com o telefone entre as duas mãos como se lendo algo. Não resisti, registei o momento e o próximo minuto que a minha foto a envolveu. A sua imagem ficou estática na parede de fundo coberta pela luz do sol que entrava de fio por algumas das persianas do meu escritório. 

Lembrou-me do dia em que a conheci, há nove meses, estava perplexa a olhar para a placa no Jardim dos Amores sem saber se escolhia 2014 ou 2015, uma analogia antiga do nosso bairro que diferenciava a Rua do Ano à Rua do Ano Novo, mas mudava todos os anos. Ela acabara de mudar-se para cá de regresso após terminar os estudos na Metreopolis, onde viveu nos últimos 10 anos. Saira de casa sozinha para fotografar a vizinhança. Nesse dia prontifiquei-me a acompanha-la e falamos por horas sobre as mudanças do bairro. Desde então que desfrutamos do silêncio um do outro e documentamos momentos em que apreciamos esses instantes.

Agora, quase prontos a fazermos a passagem de ano juntos, apercebemo-me que em muitos momentos notei a forma como ela mordia o que comia, a gentileza com que pegava no copo e a espontaneidade com que sentia-se avontade no meu longo silêncio, sem questionar-me, sem incomodar-me. Amei-a inumeras vezes na minha mente, mesmo na sua ausência, e muitas mais ainda ao toque estático dos seus dedos na palma da minha mão, que no passado se retraira à chegada de um novo querer. Nessa sua simplicidade, ela faz-me perder-me no querer dos seus lábios mudos e na curiosidade da objectiva que documenta a minha perplexão. 

No parque, enfrente ao sinal de 2014 e 2015, planeamos celebrar hoje juntos e sentir transitar mais um ano. Festejarei diferente com ela que um dia deixou-me guia-la por ruelas que já não conhecia. Hoje daremos mais um passo juntos esperando que 2015 continue a dar-nos momentos de reflexão e nesse silência que nos facilita documentar o amor e apreciação que sentimos um pelo outro. 

Feliz Ano Novo!



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