Pérola negra
Narice é uma menina de 11 anos de pele castanha escura, lisa
e aveludada, de olhos grandes e redondos e cabelo curtinho, que diz ela
chamarem ruim. É a segunda de quadrigémeas, todas elas diferentes, com peles
em diferentes tons de castanho.
Uma vez, enquanto sentadas à porta da casa dos avós, as
quatro meninas, Narice, Nina, Nitinha e Nora, notaram um menino parado ao
portão do vizinho a aprecia-las. O avô lia o jornal na varanda.
-
Nunca viste? Perguntou a Nora. As outras irmãs
levantaram-se e Nitinha
-
agarrou no braço da Nora a tentar puxa-la prà
dentro do quintal.
- Vocês são amigas ou irmãs? O menino
atreveu-se.
- E o que é que te interessa? Disse a Nina
posicionando-se como se desafiando o atrevimento do menino.
- Quem é meninas? Indagou o avô desde a varanda.
- Ninguém, avô. É apenas um menino curioso.
Assegurou-o Narice
- Estava a passar quando notei-vos a brincarem
aqui. Essa miúda, disse apontando para a Narice, tem uma pele e um cabelo que chamou-me
atenção.
- O que é que tem a minha pele?
- É de um castanho muito escuro, mas… O
jovem pausou pensativo. Achei muito bonita. Nunca tinha visto de perto um
castanho assim.
- Nós chamamos-lhe a nossa pérola negra,
Nitinha.
- É verdade. E a cor do teu cabelo, esse
avermelhado é mesmo teu?
- Estás a gozar, né?
- Não! Estou a falar a serio, nunca vi antes.
- Meninas, vamos mas é entrar. Nora começou a
puxar as irmãs pelos braços.
- Esperem… Não queria ser inconveniente.
- Já foste.
- Todas vocês têm peles lindas e uma cor no
vosso cabelo…
- Parece artificial, já sabemos. Nitinha
terminou a frase do menino.
- Não é bem artificial. Só não sei bem como
explicar.
- Não precisas, disse Narice. Nós sabemos que
temos cabelos e pele de diferentes tons de castanhos. A única diferença é que
eu sou a que mais notam. Até mesmo o meu cabelo é o único que tem um só
caracol. O resto não encaracola.
- Eu gostei de vocês.
Narice entrou para
o quintal sem dizer nada, senão pediu licença antes de fechar o portão. Correu
para aproximar-se das irmãs que iam em direcção ao quintal da parte de trás da
casa do avós delas. Nora abraçou-a de um lado e Nina do outro.
- Não ligues, disse Nora.
- Sei que não devo. Mas porque que notam-me
sempre a mim?
- Como diz o papá, somos apenas os chocolates
sortidos da caixinha dele. Disse Nitinha acariciando as costas da Narice.
Espantam-se com a tua beleza, mas reconhecem, antes de tudo, as nossas
diferenças. Por isso estamos sempre juntas.
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