Manhã de Domingo...

... ... "O sol [não batia] forte no telhado [nem levantou] uma nuvem de pó, como cantado pelo Ruca Van-Dúnem no principio dos anos 90s. Assim apenas foi como começou a ideia para um exercício que fiz com os miúdos cá de casa hoje. Andaram a chatear-me para jogar jogos electrónicos, que eu não gosto lá muito que eles o façam. Consegui distrai-los... Pedi-os que fossem buscar uma folha de papel cada e algo para escrever. Dei-lhes a primeira frase, como nesse continho que criei eu, e pedi-os que criassem uma estória com qualquer que fosse os detalhes que escolhessem, dizendo-lhes que as personagens podiam ser quem quer que quisessem (animais, bonecos, pessoas, etc.). Os meninos aderiram ao projecto sem pestenejar e o concluíram rapidinho; até ilustrações fizeram.

A minha Joaninha escreveu uma estórinha com o texto ondulado que termina no lugar aonde ela quer ter a festa dela de aniversário no próximo ano. Pista, mamã? ou será apenas ela puxar a braza para à sua sardinha. No continho do menino, o Leãozinho fez da irmã fosse uma vampira, que ele depois argumentou ter sido uma mascara. No fim, tivemos três estórias que iniciaram da mesma forma.

O próximo exercício será uma tentativa de criar a mesma estória, cada um de nós seguindo o texto inicial. Seria óptimo se podesse ter o vosso contributo, quer seja para escolher o tópico como para desenvolver o texto.
______
Numa manhã de domingo, eu fui desperta pelas batidas de algo na minha janela. Pensava que era o meu primo Wandel, que as vezes atirava pedrinhas para chamar-se sem acordar os meus pais. Ao abrir a janela, fui cumprimentada pelas bolinhas pequenitas de granizo que pareciam querer entrar para albergar-se do frio que não era de costume nessa época do ano no Huambo. Era Dezembro e não era comum estar frio.

Corri para o quarto dos meus pais a avisa-los.

-       Papá! Mamã! Mamã, acorda. Papá, acorda. Está a nevar. É natal. Está a nevar.
-       Oh, Joaninha, deixa de fazer confusão.

Puxei a cortina e abri a janela.

-       Está frio, filha. Fecha a janela e deixa o papá e a mamã dormirem.
-       Está a nevar mamã. Papá, vem ver. Levei um bocadinho das pedritas de granizo até o meu pai. Olha… Vê, papá!
    
O meu pai abriu um olho. Eu deixei cair uma das pedrinhas que rolou para o outro lado da cara dele.

-       Neve!? Saltou o meu pai ao sentir o frio na bochecha.
-       Vês!? Eu disse-te.
-       No Huambo não neva, filha.
-       Então, é porque já é natal, papá.
-       É Dezembro, filha, mas não é natal.

A minha mãe sentou-se na cama a reclamar que a tinha acordado. Abanava a cabeça, mas ria-se ao ver-me feliz.

-       Não é Natal ainda, filha. Mas podemos fazer com que o Natal de umas crianças comece mais cedo.
-       Como assim papá?
-       Amanhã no meu serviço, vamos fazer recolha de brinquedos para meninos que não têm dinheiro para os comprar.
-       Não percebo, papá?
-       Lembras-me que partilhamos sempre do que temos e o que já não precisamos com pessoas que não têm muito dinheiro para comprar?
-       Sim, papá.
-       Então, amanhã no meu serviço, vamos juntar brinquedos usados mas bem conservados para dar a um centro de acolhimento de meninos e meninas.
-       Acolhimento?
-       Sim, filha. Um centro aonde vivem meninas e meninos que não podem viver com os pais?
-       Não podem viver com os pais porquê, papá?
-       Por diferentes razões que um dia entenderás.
-       E eu posso ir amanhã ao teu serviço.
-     Podes, se quiseres. Mas poderás fazer melhor se fores ao teu quarto e ligares para os teus primos a ver se vocês têm coisas com que já não brincam, mas ainda estão bem conservadas.

Fui logo a correr para o meu quarto. Liguei para o meu primo Wandel, para as minhas primas Malam, Paty & Vayola. Os meus tios disseram que passariam cá por casa mais tarde para deixarem ficar alguns brinquedos; e passaram.

No dia seguinte, após sair da escola, a minha mãe levou-me para o serviço do meu pai para entregarmos os brinquedos que tínhamos recolhido. A cave do prédio aonde trabalha o meu pai parecia o armazém do pai Natal, como mostram nos filmes, aonde os trabalhadores que recolhiam e organizavam os brinquedos pareciam elfos da fábrica de brinquedos. 

Não era Natal ainda, mas naquele momento o Natal começava para muitos meninos e meninas da cidade do Huambo. Lembrei-me do que o meu pai diz que o meu avó dizia quando ele era pequenino, pois naquele momento, "dar [soube] melhor do que receber". Por isso, de hoje em diante tratarei dos meus brinquedos para poder continuar a dar. 


***Em 2012 foi partilhado aqui no D&P as crônicas do bubu em pano do Congo I, II, III, como descrito o exercício aqui, ma infelizmente não houve aderência na participação





Via Connexions



Textos dos meninos da  (foto de) Lwsinha MC

Crônicas do bubu em pano do Congo

Comments

  1. Adorei, neve no Huambo em dezembro acreditoque sejam tb consequencia das alteracoes climaticas. Quero mais. bj

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    1. Ora nem mais… Da forma como as estações andam mudadas, não me espantaria se um dia desses acontecesse, ainda que não em Dezembro.

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