Acidente de esperanças


Sabrina e Maria cruzavam várias vezes na sua caminhada diárias para e do serviço. Mas não se conheciam...

Sabrina com um corpo enviolado, como a diziam ter muitos atrevidos pelas ruas Luandinas, andava carregada de carteiras, diplomáticas, como se estivesse sempre a resolver os problemas do povo daquela parte da cidade. No seu passo apressado e imponente, uma vez um moço chamou-lhe de tropa da beldade, após assobios assediadores. Recebeu as esfaqueante olhada de chega prà lá, no meio do cansaço dela. Também nunca mais atreveu-se dizer-lhe nada. Continuou apenas a observa-la ao longe. Sentava-se à porta do seu prédio no fim do dia prà vê-la passar. Adorava a forma, prà ele peculiar, como ela usava o seu cabelo diferente das mocinhas que ele conhecia.

Já a Maria, andava no passo quase camaleando de tão lento mas ritmado pela forma como ela tentava evitar “as minas” pelos passeios- não pisava nem no papel de chuinga. Como tinha sempre os auscultadores nos ouvidos, parecia-se guiada por música coreografada no momento.

Numa sexta-feira ao fim do dia, as duas iam na sua rotina quando a evitar pisar numa mina, Maria, esbarra-se contra a Sabrina que deixa cair para o chão a mala diplomática e a lancheira.

- Fu, fu, fu! Apressou-se a Sabrina a apanhar os seus pertences. Mas não vê aonde vai?

- Também podias escapar.

- Estou carregada, não tenho de fugir de malucos distraídos.

- Ninguém lhe ofendeu, moça.

- Não quero saber. Da próxima vez preste mais atenção, disse Sabrina a tentar recompor-se.

Maria notou que Sabrina carregara alguma poeira que a sujou o ombro do casado. Agora carrega a porcaria dessas ruas prà acompanhar a rispidez da tua atitude, pensou num tom de vitória.

- Desculpa moça, disse Maria sem querer.

Suspirando, Sabrina recomeçou a sua caminhada, sem reconhecer as desculpas da Maria, que abanou a cabeça e continuou o resto dos cinco minutos que tinha prà chegar à casa. São essas, pensou, só porque têm malas diplomáticas, sapatos altos e saias justas, pensam que são donas da razão, que estão acima da lei. Maluca é ela com aquele cabelo que nem parece pentear.

O moço, que normalmente apreciava Sabrina, observou o acidente entre as duas e ficou boquiaberto com a forma que aquela mulher que ele admirava reagiu. É mesmo essa boss que eu quero prà mim, pensou. Mulher que não leva desaforo prà casa e de poucas palavras. Sorriu ao imagina-la com ele e esperançado de a ver mais vezes por ali. Se calhar um dia desses ofereço-a a minha ajuda a carregar as coisas dela, pensou.

Comments

  1. Haha! Tou a ver a Mai e a Ana, haha! A inspiração beteu-te e ñ quer te deixar. Bom rítmo e tou a gostar da forma aberta, inconclusiva como tens terminado as cenas. Não pares de escrever amiga.

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    1. Obrigada, 'miga! Tenho seguido as sugestões... Obrigada pela tua paciência super força!
      Vocês, BA, servem de inspiração..

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