15 Dias de Escrita- Escrita livre
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Dia 1~ Ironia de um destino
[...]
Já era a segunda
casa onde fui albergada. Fiquei sentada aonde o senhor Manuel deixou-me. O
Kanini encontrou-me sentada na esquina da rua, no fim do dia de um dia em
Março, quando regressava da escola. Tive sorte de não ter sido apanhada pela
carga de chuva que caiu naquela noite.
Kanini era o
filho mais novo da Dona Alcina. Miúdo espevitado que cansava-se facilmente por
causa do excesso de peso que tinha. Mas gostava de correr.
Comigo,
a família passou a ter três crianças, para além das duas jovens,
sobrinhas do Marido da Dona Alcina. O senhor era mais esquisito ainda que eu.
Dele só cheguei a ver os pés e as pernas porque ele tinha um lugar especial em
casa. Nenhum de nós podia lá ir. A empregada arrumava de manhã e a Dona Alcina
arrumava no fim do dia. Ele chegava, sentava-se, e sóão mastigavam a comida
dele porque ele também é um germofobico, tem medo de germes, daí que se isola.
Nas primeiras
horas ao chegar à casa deles, fizeram-me um interrogatório que achava que me
fossem levar mais é para a policia. Não tinha nada comigo. Só tinha nove anos e
não percebia de muitas coisas. Eram experiências como essas de hoje que me
faziam recordar de promenores e pouco à pouco algumas coisas fizeram sentido
por algum tempo.
Eu não cheguei a
ir para a escola. Quanto o Kanini apanhou-me faltavam apenas dois dias para
terminar o trimestre. Ele e a Karla, a irmã mais velha que parecia bem filha do
pai dela na sua esquisitice, já tinham planos para irem passar as férias com a
avó Maria, porque naquele ano eles queriam saber como é que a avó tratava jiba.
Vivia cada
experiência no meu sonho. Encolhida em posição fetal, arrependida de ter saido
do unico sitio onde estava bem. Recei que me fossem abandonar em qualquer
esquina como o Manuel o fizeram semanas antes. O Kanini ainda correu atrás de
mim, mas eu não podia voltar. Não podia deixar que alguem mais me fizesse mal
como me tinha feito na casa anterior.
Despertei com o
estrondo do lixo que foi atirado para o contentou há quatro metros dela. Senti
raiva por ter sido tirada do ultimo conforto que conheceu como jovem mulher.
Faz tempo que não dormia uma noite inteira. Dormi muitas noites em chão
simples, por recusar-me apanhar papelão no lixo. Podia não ter nada, mas
detestava cheirar mal. Algumas vezes dormia em carros parqueados na rua, quando
os donos esqueciam de os trancar.
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